Já faz 14 anos que o Mestre Sabota nos deixou. Um mano com uma mentalidade lúcida e diferenciada, e que teve um papel importantíssimo não só para a cultura hip hop, mas para a representatividade na música. Se liga que a gente te explica um pouquinho mais do legado e importância que o Sabotage deixou no cenário nacional.
Lá no Canão…
Maurinho – apelido dado na infância – sempre foi carismático e muito querido na sua quebrada, a favela do Canão, no Brooklin, zona sul de São Paulo. Quando criança, já fazia seu corre e conseguia tirar uma grana montando e desmontando barracas na feira. Paralelo a isso, sempre que podia, escrevia seus raps.
Foto: Zanone Fraissat
O apelido Sabotage veio do irmão, o Deda, lá da infância, época que sofria com as zoações do Sabota e dizia “esse moleque tá fazendo sabotagem de novo”.
O rapper do Canão sempre esteve envolvido com o som, mas nunca profissionalmente. Até que Rappin’ Hood e Sandrão, do RZO, resolveram dar uma chance e o convidaram para pequenas apresentações em seus shows. Cientes do talento extraordinário do “moleque”, logo incentivaram o, até então, desconhecido Sabotage a gravar seu primeiro álbum.
Rap é compromisso
Que álbum zica! Com toda certeza, Rap É Compromisso está entre os mais respeitados, competentes e originais discos de rap de todos os tempos.
As 11 faixas retratam a maneira como Sabotage encarava e entendia o mundo. Com rimas agressivas e um flow sem igual, o morador de um dos bairros mais humildes da cidade de São Paulo pode deixar o que muitos tentaram, mas só alguém com a genialidade que ele tinha poderia: visibilidade e representatividade.
O álbum contou com time um f*da em sua produção. Saca só alguns dos nomes que estiverem no processo de criação: Ganjaman; Tejo Damasceno; RZO; Racionais Mc’s; Rappin’ Hood; entre outros grandes nomes da cena do hip hop da época.
Sabotage foi responsável por dar “voz e holofote” à favela do Canão. As faixas Um Bom Lugar, No Brooklin e Na Zona Sul retratam de forma magistral a inteligência e talento do Maurinho para mostrar o dia a dia da sua realidade.
A luta nunca vale a experiência
É Santo Amaro a Pirituba o pobre sofre, mas vive
A chave é ter sempre resposta àquele que inflige
A lei na blitz, pobre tratado como um cafajeste
Nem sempre polícia aqui respeita alguém
Em casa invade, a soco ou fala baixo ou você sabe
Maldade, uma mentira deles, dez verdades
(Trecho da faixa Um Bom Lugar)
Um flow pesado!
Mano, que flow era aquele do Sabota?! O cara tinha uma noção tremenda de levada, tinha time, capacidade de improvisação e habilidade de passar pelos diversos ritmos de flow, como migrar do punchline para um speed flow, por exemplo.
Na música Mun-Rá fica evidente o dom que ele tinha para mudar de um estilo para o outro perfeitamente. Se liga:
Sabota vive!
Além disso, Sabotage participou dos filmes Carandiru e O Invasor, como ator e também consultor. O mano não era pouco coisa, não…
O rapper influenciou muitas gerações. Apresentou um novo jeito de cantar e de ter um propósito com o rap e com a cultura hip hop, de modo geral.
A canção Rap É Compromisso fala bastante disso.
A união de classes, visibilidade às minorias e mostrar que negros e brancos podem e devem estar juntos foram as principais pautas do Mestre. Para muitos, Sabotage foi a ponte que ligou vários mundos e realidades através da música e de seu genial jeito de fazer e viver o rap.
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Foto: Brasil de Fato
